Abordagem Sui Generis

Ontem passei grande parte do dia numa Biblioteca em Lisboa, a consultar uns arquivos antigos. Depois de almoçar num bar dentro da própria Biblioteca, fui para a rua fumar o cigarrito da praxe.
É aqui que começa a história...

Chego ao exterior, saco de dum cigarro e acendo-o. Ao meu lado estavam duas senhoras, nos seus 40 e tais anos, que vim a perceber serem funcionárias da dita Biblioteca, e que, também elas, estavam a fumar um cigarro.
Poucos segundos passaram até que uma delas, sem mais nem porquê, se dirige a mim e me pergunta:

Senhora A - Posso fazer-lhe uma pergunta indiscreta?
Marte - Pode, desde que eu lhe possa responder.
S A - Mas olhe que é muito pessoal...
M - (relutante) pergunte lá...
S A - Então é assim... Uma cobra e um ouriço nasceram no mesmo dia, à mesma hora. Um ano depois qual é o mais velho?
M - Têm os dois a mesma idade ?!...
S A - Não! O mais velho é o Ouriço, que tem 1 ano e picos...
M - (lol) Essa é boa...
S A - É gira, não é?
M - Fui bem apanhado, sim senhor...
S A - Não lhe devia contar esta, que é um bocadinho perversa, mas aqui vai: um Homem um dia, perante Deus, pediu-lhe um desejo. Queria estar metido no meio das pernas duma mulher... Deus, sem hesitar, concedeu-lhe o desejo e transformou o Homem num penso higiénico!
M - (lol) Muito boa!
S A - Devia estar calada, que ainda levo um processo disciplinar!
M - Fique descansada que não conto a ninguém...
S A - Ai mas não posso contar-lhe estas coisas...
M - Não se preocupe minha senhora...
S A - Então conto-lhe só mais esta... 2 camionetas, exactamente iguais, carregadas com porcos com o mesmo peso. Qual é a diferença entre as camionetas? Não é o motorista...
M - A matrícula?!
S A - Certo! Muito bem... e agora vou-me calar antes que leve com um processo disciplinar...
M - Vá lá, ao menos acertei nesta!
S A - Esta foi a minha colega que me contou... É das piadas do Sr. Engº José Socrates!
M - O quê?
S A - Sabe, é que ele anda a assediar-me...
M - A assedia-la?
S A - Todos dias me envia um email a contar uma piada... É para ver se conquista o meu voto... mas está muito enganado! Eu não voto nele! Já tenho partido e não é o dele... mas ele insiste... é muito persistente...
M - Há que lhe dar crédito pela persistência...
S A - E você não recebe emails dele?
M - Eu não... ele ainda não tem o meu email...
S A - Sorte a sua... Que ele a mim não me larga...
S B - O melhor é não ter partido como eu!
M - Se calhar...
S A - Isso é impossível! Já dizia Aristóteles, que o Homem é por natureza um animal político!
M - Se ele o disse...
S A - Não é que o tenha conhecido...
M - Pois, eu também não o conheci...
S A - Já o Décartes e o primo Dionísio da América... Da América não! Dos Estados Unidos da América! Sim, porque a América é um continente e tem muitos países... Cuba, Venezuela, Canadá...
S B - A minha prima esta nos E.U.A. e diz que aquilo é tão grande que para ela ir a casa da filha leva 2 horas de avião! É muito grande a América.
S A - Não é a América! Os E.U.A.!
S B - Eu sei! Tu sabes o que eu queria dizer...
S A - Aqui a minha colega é que anda a assediar o Teixeira dos Santos...
M - Como eu a percebo... (lol)
S B - Não lhe ligue que ela é parva!
S A - Veja lá... como é aqui a minha amiga... pedi-lhe para me dar uma Palma de flores quando eu morresse, se morrer primeiro que ela... e ela diz que não me dá, porque os mortos não precisam de flores...
S B - E não é verdade? Para que é que queres flores depois de morta?
S A - Então faz uma festa em minha homenagem!
S B - Se quando morreres me deixares dinheiro, eu faço uma festa!
S A - Ó minha parva! Como é que eu te deixo dinheiro depois de morta?
S A - Deixas antes! Metes dinheiro dentro de um envelope e escreves: "Para a minha festa", e guardas ali na tua gaveta. Quando morreres, eu vou lá buscar o envelope e faço a festa...
S A - Olha-me para esta heim?!
S B - Hahahaha (risos altos com os poucos dentes que ainda se aguentavam na sua boca)
M - Pois... Bem...
S B - Mas olha que a minha filha no outro dia perguntou-me onde ficava Portugal e eu disse para ela ir buscar a lupa que eu lhe mostrava na "bola"... É que somos tão pequenos...
S A - Pois somos!
S B - Pequenos mas muito pacíficos... por isso é que vem para cá tudo!
S A - Pacíficos? Nós?
S B - Então não somos? Não fazemos mal a ninguém! Os chineses, os brasileiros, os africanos, os ucranianos, vem tudo para cá e nós abrimos os braços!
M - Lá isso é verdade...
S A - E a PIDE? Também era pacífica?
S B - Não podes ir buscar isso, c'a PIDE já não existe!
S A - Ai que não existe diz ela...

(Entretanto acabo o meu cigarro. Sim, esta conversa toda ocorreu num espaço de um cigarro...)

M - Peço imensa desculpa minhas senhoras, mas vou ter de voltar para o trabalho que estava a fazer...
S A - Também nós, é ainda levamos um processo disciplinar as duas!
S B - Cala-te mulher! Tu levas um processo é por falares tão alto!

...

Enfim... depois de uma manhã secante de volta de algumas dezenas de livros, foi uma pausa, no mínimo hilariante. Contudo, confesso, cheguei a ter medo das referidas senhoras, devido à conversa tão peculiar que ali se gerou...

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quarta-feira, 9 de abril de 2008